Laço afetivo de animais e pessoas vulneráveis não pode ser ignorado em projetos de reinserção | aRede
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Laço afetivo de animais e pessoas vulneráveis não pode ser ignorado em projetos de reinserção

Conselheira, médica veterinária acredita que abrigos para pessoas em situação de rua devem ter espaços para animais, já que, em muitos casos, eles são a única fonte de afeto desses indivíduos

Érika Zanoni Fagundes Cunha é conselheira da Causa Animal
Érika Zanoni Fagundes Cunha é conselheira da Causa Animal -

Rodolpho Bowens

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A conselheira da Causa Animal do Grupo aRede, Érika Zanoni Fagundes Cunha, explica que a reinserção de pessoas em situação de rua - entenda a discussão clicando aqui, passa por integrar os animais de estimação neste processo. Para ela, os abrigos devem destinar espaços aos animais dos tutores, visto que, em muitos casos, eles são os únicos laços de afeto que restam em pessoas vulneráveis. Assim, contribuindo verdadeiramente em um processo humano.

Confira abaixo a opinião na íntegra da Érika, que é médica veterinária, especialista em Neurociência Clínica, mestre em Ciências Veterinárias, doutora em Zoologia e pós-doutora em Direito Animal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR):

"O tema da reinserção de pessoas em situação de rua precisa ser olhado integralmente, considerando não somente o abrigo físico, mas também os vínculos afetivos que sustentam a sobrevivência e a saúde emocional desses indivíduos.

Entre esses vínculos, um dos mais fortes, e, ao mesmo tempo, mais negligenciados, é o laço entre as pessoas em situação de rua e seus animais de companhia.

Esses animais representam muito mais do que simples companhia. Eles são, muitas vezes, a única fonte constante de afeto, proteção e pertencimento. Em meio à exclusão social, à perda de laços familiares e à invisibilidade cotidiana, o animal é quem oferece segurança emocional e reciprocidade. É quem permanece ao lado quando tudo o resto falta.

VÍDEO
Assista à opinião da conselheira da Causa Animal | Autor: Colaboração.
 

Separar essas pessoas de seus animais em nome de uma política de acolhimento é, em muitos casos, romper o último fio que ainda as conecta à vida. Por isso, falar de reinserção social é também falar de reinserção dos vínculos interespécies, reconhecendo o animal como parte legítima da família.

Do ponto de vista da saúde mental, há um impacto profundo: estudos mostram que a presença de um animal de estimação pode reduzir o estresse, diminuir sintomas de depressão, promover rotina e senso de responsabilidade, além de contribuir para a recuperação da autoestima.

Esses efeitos são ainda mais evidentes em pessoas em situação de vulnerabilidade, nas quais o animal representa uma âncora emocional e até espiritual.

No entanto, na maioria dos abrigos, a entrada de animais ainda é proibida, o que faz com que muitos rejeitem o acolhimento, mesmo precisando de ajuda. Isso cria um paradoxo cruel: ou aceitam um teto e abandonam o companheiro, ou permanecem na rua para continuar juntos.

Nenhum programa de reinserção será verdadeiramente humano enquanto impuser essa escolha. Por isso, é urgente incluir o olhar animalista nas políticas públicas voltadas à população em situação de rua. Isso significa:

▶️ Criar abrigos integrados com espaços destinados aos animais dos tutores;

▶️ Estabelecer parcerias com clínicas veterinárias, ONGs e universidades para garantir cuidados básicos;

▶️ E promover ações educativas e de conscientização sobre guarda responsável, saúde e bem-estar animal, sempre com respeito à dignidade das pessoas envolvidas.

Reinserir pessoas é também reconhecer e acolher seus vínculos afetivos. Quando cuidamos da relação entre o humano e o animal, estamos, na verdade, cuidando de uma dimensão essencial da dignidade e da saúde mental de ambos.

Porque ninguém se reintegra verdadeiramente à sociedade se for obrigado a abandonar aquele que representa o seu amor, o seu refúgio e, muitas vezes, a sua única razão para continuar".

CONSELHO DA COMUNIDADE

Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.

Conheça mais detalhes dos membros do Conselho da Comunidade acessando aqui.

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