A 'arritmia digital' da conectividade é um risco à saúde e segurança em Ponta Grossa
Conselheiro, médico avalia que conectividade precária afeta serviços essenciais e a saúde da população, a exemplo da telemedicina
Publicado: 20/12/2025, 12:20

O conselheiro da área da Saúde do Grupo aRede, Mário Rodrigues Montemor Netto, avalia que a precariedade do sinal de telefonia e internet em Ponta Grossa vai além de uma falha técnica e representa um problema de saúde pública, que ele define como uma “arritmia digital”.
O debate é referente a uma reportagem especial do Portal aRede
Para ele, a conectividade deve ser tratada como um fator associado à saúde, exigindo ações urgentes do poder público e das operadoras para reduzir desigualdades, proteger a saúde mental da população e garantir acesso seguro a serviços como a telemedicina.
Confira abaixo a opinião na íntegra de Mário, que é médico, pesquisador, professor e presidente da Associação Médica de Ponta Grossa (AMPG):
"Ao analisarmos a reportagem sobre a precariedade do sinal de telefonia e internet em Ponta Grossa, é fácil encararmos o problema apenas como uma inconveniência técnica — o vídeo que trava ou a mensagem que não chega. No entanto, sob a ótica da saúde pública, meu diagnóstico é mais grave. Ponta Grossa sofre de uma "Arritmia Digital", uma patologia caracterizada por um paradoxo perigoso: sofremos simultaneamente de "hipóxia" (falta de oxigênio/sinal para serviços vitais) e de "taquicardia" (o estresse e a dependência tóxica da hiperconectividade).
Este cenário não é apenas um problema de telecomunicações; é um Determinante Social de Saúde que afeta a segurança física e a sanidade mental da nossa população.
1. A Hipóxia Digital: A "Divisão Digital" que Bloqueia a Saúde
A primeira face da doença é a desconexão forçada. Estudos globais recentes, como "A Smartphone Is Not Enough", mostram que a dependência exclusiva de dados móveis (3G/4G instável) cria uma "subclasse digital" com acesso precário à saúde.
Discutimos no MasterPlan da Saúde a modernização via telemedicina. Porém, os dados são claros: pacientes que dependem apenas de celular têm taxas muito maiores de abandono de tratamento (no-show) em consultas virtuais.
Se o paciente do Jardim Carvalho ou de Itaiacoca não tem sinal estável, a consulta cai. Isso gera o "absenteísmo digital". Sem uma rede robusta, a saúde digital vira privilégio de poucos, aprofundando a desigualdade no SUS. Além disso, na zona rural, a falta de sinal decreta a incomunicabilidade. Em caso de infarto ou acidente, a impossibilidade de chamar o SAMU na "hora de ouro" transforma uma falha de antena em um risco de morte.

2. A Taquicardia: O Paradoxo da Juventude e a Ansiedade
A segunda face é a relação da nossa juventude com essa tecnologia. Pesquisas sobre "Unplugging Youth" revelam que o uso excessivo de smartphones (>5h/dia) está ligado à depressão, distúrbios do sono e ansiedade severa.
Aqui vivemos o Paradoxo de Ponta Grossa: o sinal é ruim o suficiente para impedir o trabalho e o estudo (gerando estresse nos motoristas de app e estudantes), mas é suficiente para manter o vício em redes sociais. Isso cria um ciclo de "Ansiedade da Desconexão": o jovem fica ansioso não só pelo vício (Fear of Missing Out), mas pela incerteza se a rede vai funcionar. O "ícone de carregando" girando na tela é um gatilho moderno de liberação de cortisol (hormônio do estresse).
3. O Ambiente Tóxico: Fios que Estressam
Para piorar, a infraestrutura que deveria nos conectar, muitas vezes nos agride. O emaranhado de fios aéreos nos postes (o "caos aéreo" que já diagnosticamos) é uma forma de poluição visual que aumenta a carga cognitiva do cérebro, contribuindo para a fadiga mental coletiva.

Conclusão: O Diagnóstico e o Prognóstico
1) Conectividade é Saneamento do Século XXI
É doloroso ver que, enquanto o mundo testa a internet 10G, nós lutamos pelo básico do 4G em bairros populosos como o Jardim Carvalho. A exigência por melhorias na cobertura não é um pedido de conforto, é uma demanda de sobrevivência e dignidade humana. As autoridades e operadoras precisam entender: cada "ponto cego" no mapa de Ponta Grossa é um local onde a saúde da população está desprotegida e onde o futuro chega com atraso. Resolver a "arritmia digital" é vital para manter o coração da cidade batendo.
2) O Prognóstico
A "Arritmia Digital" atua como um determinante social de saúde negativo. Ela reforça o que a literatura chama de "digital redlining" (exclusão digital de áreas menos lucrativas), criando uma subclasse de cidadãos desconectados que, consequentemente, são menos saudáveis e menos seguros. O tratamento exige encarar a conectividade não como luxo, mas como saneamento básico. Sem estabilizar o ritmo dessa rede, a telemedicina falhará e a cidade continuará sofrendo "infartos" logísticos e sociais.
3) Higiene Digital
Precisamos promover espaços de "Desintoxicação Digital" (Digital Detox). Mas isso só é possível se a cidade oferecer alternativas. Nossos jovens ficam no celular porque faltam quadras, parques e lazer seguro nos bairros. O investimento no esporte e na cultura é o melhor remédio para tirar o jovem da tela".
CONSELHO DA COMUNIDADE
Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.
Conheça mais detalhes dos membros do 'Conselho da Comunidade' acessando outras notícias sobre o projeto.





















