Estudo técnico definirá futuro do aeroporto de Ponta Grossa
Prefeitura quer ampliar pista de aeroporto para 2,5 mil metros para receber novos voos e aeronaves maiores; linha férrea é principal empecilho para avanço do projeto
Publicado: 06/09/2025, 07:00

A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG) solicitou um Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) para dar início a um novo projeto de infraestrutura de aeroporto no município. Atualmente, o único espaço próprio para voo na cidade é o Aeroporto Municipal de Ponta Grossa - Comandante Antonio Amilton Beraldo (SBPG), popularmente conhecido como “Sant’Ana”. Localizado no bairro Cará-Cará, o aeroporto municipal teve seu último voo comercial há seis meses, em 29 de março de 2025.
De acordo com o Poder Executivo, por meio da Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional (SMICQP), setor responsável pela promoção de investimentos e desenvolvimento para a cidade, a missão de fazer este planejamento ficou para a gestão de Elizabeth Silveira Schmidt (União Brasil). “Em 2014 foi feito um Estudo de Viabilidade Técnica (EVT), porém, as condições da cidade e do próprio setor mudaram bastante. A intenção é promover um estudo mais amplo, a partir de um EVTEA, analisando a viabilidade do Aeroporto nessa nova realidade, inserindo nos estudos novos critérios econômicos, ambientais, imobiliários e jurídicos”, conta. Segundo o órgão, o valor para a confecção deste novo estudo não está definido, pois se encontra neste momento em fase de contratação”.

A prefeita explica que esta ação é necessária para preparar Ponta Grossa para o futuro, bem como para os investimentos que estão chegando à cidade. Segundo Elizabeth, algumas das modificações na infraestrutura do aeroporto municipal já são previstas. “A principal mudança do aeroporto é o desvio da linha férrea, e a ampliação da pista de pouso para 2,5 mil metros, permitindo receber aeronaves maiores e mais voos. Já estamos com o mesmo entendimento: a Prefeitura, a empresa Rumo e a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Seil)”, diz Elizabeth, que afirma estar resolvendo o presente e preparando o futuro por meio destas obras.
NOVO AEROPORTO? - Entretanto, ao ser questionada sobre a possibilidade de um novo aeroporto, a gestora municipal afirma que reconhece os desafios em que o aeroporto se encontra hoje, mas somente o resultado do EVTEA poderá definir o próximo passo para o investimento. “Apenas um estudo técnico aprofundado poderá indicar se essa alternativa é necessária. Temos consciência dos desafios de infraestrutura e, por isso, já estamos apresentando projetos de modernização e ampliação do aeroporto municipal. Caso esses projetos se mostrem inviáveis, buscaremos a implantação de um novo sítio aeroportuário”, afirma.

Em consulta ao posicionamento da Rumo, a empresa afirmou que o processo de reconhecimento da viabilidade já está sendo feito. “A concessionária informa que, em conjunto com o governo do Estado e com a prefeitura, estão sendo estudadas alternativas para a ampliação do aeroporto em Ponta Grossa, mantendo a viabilidade logística ferroviária no município".
INVESTIMENTOS - Em conversa exclusiva para o Portal aRede e Jornal da Manhã, o secretário de Infraestrutura e Logística do Estado, Sandro Alex (PSD), conta que já possui um plano que certifica a viabilidade do projeto, entretanto, a Prefeitura de Ponta Grossa não teria entrado em contato para uma possível colaboração. “A viabilidade técnica foi comprovada, mas a execução envolve a ampliação da pista e a desapropriação de áreas, incluindo residências e outros imóveis adjacentes. Iniciamos negociações para avaliar alternativas, pois esta iniciativa visa impulsionar o desenvolvimento dos Campos Gerais com um modal aéreo competitivo e voos comerciais, mas, até o momento, não recebemos nenhuma manifestação da Prefeitura sobre o assunto”, conta.

De acordo com Sandro, a Secretaria está disposta a auxiliar no desenvolvimento do aeroporto. O secretário lembra que, como deputado federal, os investimentos destinados ao aeroporto partiram de sua articulação política, como os recursos para pátio, taxiway e o terminal. “Diante disto, buscamos alternativas para otimizar o aeroporto existente. Este processo, embora complexo, é menos desafiador que a construção de um novo aeroporto. Por acreditar no seu potencial de desenvolvimento, o Governo do Estado está duplicando o perímetro urbano da PR-151, assegurando o acesso ao aeroporto”, afirma.
Sandro finaliza refletindo sobre a importância dos novos investimentos. “É crucial garantir o funcionamento das atividades de UTI aérea, além de assegurar os serviços mínimos de segurança, incluindo balizamento, mesmo com a suspensão das operações comerciais. A discussão sobre a construção de um novo aeroporto é válida, mas demanda tempo e recursos. No entanto, a escolha da área é complexa, envolvendo tamanho, viabilidade, ventos, aproximação das aeronaves e ausência de obstáculos. Pode levar cerca de 10 anos, demandando estudos e investimentos significativos, estimando-se um custo superior a R$ 500 milhões", diz o secretário.
VIABILIDADE - Para Aliel Machado Bark (PV), deputado federal, o principal erro do aeroporto é a sua localização. “A área apresenta dificuldades devido à proximidade do rio, da ferrovia e de residências, além da baixa viabilidade de expansão no local. Outro erro foi a priorização de investimentos em terminal de passageiros em detrimento da infraestrutura necessária para acomodar aeronaves e pistas adequadas. Corremos o risco de ter um terminal de passageiros sem aviões”, diz.

Aliel acredita que, com os estudos de projeção do aeroporto, a solução mais adequada seria a construção em outra localidade. “O espaço atual sofre com problemas de neblina, o que dificulta as operações. Em conversa com o CEO da Azul, fui informado que grande parte dos cancelamentos de voos era por esta razão. Esta informação foi corroborada em reunião no Ministério de Portos e Aeroportos (MPor)", conta ao Portal aRede/JM.
Para o parlamentar, a melhor opção para investimentos seria em um novo aeroporto. “Embora dependamos dos resultados do estudo, a tendência é que a melhor opção para o aeroporto de Ponta Grossa seja a escolha de um novo local”, diz. Aliel complementa que já participou de outras discussões sobre a viabilidade de expansão do aeroporto, mas somente o EVTEA deve revelar o caminho para as próximas decisões. “Com base no que ouvimos de especialistas anteriormente, há indicações de inviabilidade de expansão no local existente. A complexidade do terreno e outras questões geográficas podem encarecer o projeto, superando o custo de uma nova construção”, afirma o deputado.

VOLTA DOS VOOS? - Questionado, o Ministério de Portos e Aeroportos respondeu à reportagem que, assim que as atuais obras do aeroporto de Ponta Grossa encerrarem, o local estará apto a receber voos regulares. “A Prefeitura precisará buscar diálogo junto às companhias aéreas para identificar a intenção de operação na localidade. A Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) se colocou disponível para acompanhar e apoiar essas tratativas”, diz.
A assessoria de comunicação da Pasta afirma que, até o atual momento, a Prefeitura ainda deve apresentar um estudo específico que comprove a viabilidade da retirada da rede ferroviária para possibilitar a ampliação da pista, que atualmente é inviável devido à existência do trecho em uma das cabeceiras da pista.
Conectividade aérea é importante para desenvolvimento do município
Sem voos comerciais desde 29 de março deste ano, o Aeroporto Municipal de Ponta Grossa tem forte influência no desenvolvimento logístico da cidade. Para Giorgia Bin Bochenek, presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), a ausência de um aeroporto em operação representa uma significativa desvantagem competitiva para Ponta Grossa. “O setor produtivo já tem essa demanda que comprova a viabilidade e a necessidade de voos diários para centros estratégicos, como Congonhas, por exemplo. Além disso, é imprescindível boa vontade política e a união de esforços entre setor público, iniciativa privada e entidades representativas para captar recursos e executar os projetos necessários”, diz.
Giorgia preocupa-se com o potencial turístico da cidade, visto que Ponta Grossa foi considerada um dos 28 destinos inteligentes do País. “Temos atrativos como o Parque Estadual de Vila Velha e o Buraco do Padre recebendo milhares de visitantes anualmente. Um aeroporto ampliado e modernizado tornaria a cidade ainda mais acessível e atrativa, potencializando significativamente o fluxo de turistas, o que significa mais dinheiro circulando na economia local, mais negócios para o comércio e serviços, e consequentemente, mais geração de empregos e oportunidades”, argumenta a representante municipal, que afirma entender o aeroporto em funcionamento como um catalisador de múltiplos setores para Ponta Grossa.

Em entrevista exclusiva para o Portal aRede/Jornal da Manhã, a secretária da Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional (SMICQP), Faynara Merege, demonstrou interesse nos efeitos que a ampliação do aeroporto municipal pode ter nos diferentes setores da cidade. “A infraestrutura aeroportuária é um dos principais critérios que os investidores analisam, e impacta diretamente na geração de empregos e na circulação de riquezas. Modernizar o aeroporto significa abrir novas portas para o desenvolvimento, conectando a cidade a novas oportunidades de crescimento e ficando em posição de destaque no cenário nacional e internacional”, reflete.

POTÊNCIA COMERCIAL - A logística é um fator decisivo para investimentos na cidade, como aponta Rafael Issa Rickli, coordenador do Conselho Regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). “A ausência de voos regulares cria barreiras para novos negócios. O turismo também é prejudicado, já que visitantes dependem de Curitiba. Além disso, empresas locais enfrentam custos e dificuldades maiores para deslocamentos de executivos, clientes e fornecedores. Em outras palavras, sem aeroporto, Ponta Grossa perde oportunidades de geração de emprego, renda e desenvolvimento”, argumenta Rickli.
Para o coordenador da Fiep, a ampliação do atual aeroporto traria impacto direto na atração de indústrias. “Isto melhoraria a integração logística da região, reduzindo custos e tempo de deslocamento. Para o turismo, significaria maior fluxo de visitantes, fortalecendo a rede hoteleira, gastronômica e de eventos. Também teria reflexos na educação e na saúde, facilitando congressos, intercâmbios e até transferências médicas”, diz.

João Arthur Mohr, superintendente da Fiep, avalia ser necessária a existência de um aeroporto que corresponda ao nível de investimentos que a cidade tem recebido no setor industrial. “A região de Ponta Grossa é, atualmente, a que mais cresce economicamente no Paraná. Grandes complexos industriais estão se instalando em Ponta Grossa e municípios vizinhos, sendo que boa parte dessas novas indústrias são multinacionais ou companhias que possuem sedes em outras regiões do Brasil. O deslocamento de seus executivos, gestores, fornecedores e outros profissionais envolvidos em suas operações, é um fator fundamental", opina.

O gestor acredita que a cidade é estratégica em termos logísticos e turísticos, o que pode ser ainda mais potencializado com os investimentos aplicados no aeroporto. “A cidade, que possui diversos atrativos naturais em seus arredores, poderia ampliar a atração de turistas de outras regiões, além de poder investir também em turismo de negócios, com a promoção de eventos que aproveitassem essa grande concentração de empresas que vêm sendo registrada na região. Sem dúvida alguma, é extremamente necessário para a cidade de Ponta Grossa ter um aeroporto em condições para receber aeronaves de grande porte, como os 737 ou os A-320”, avalia João.
TURISMO - O setor hoteleiro também terá reflexos positivos a partir deste possível investimento. Daniel Wagner, presidente do Sindicato Empresarial de Hotelaria (SEHG), demonstra interesse no planejamento para o município. “Frequentemente, turistas que estão em nossa cidade por alguns dias utilizam voos de Curitiba para retornar às suas cidades de origem. Nesse cenário, o passageiro muitas vezes opta por pernoitar em Curitiba na noite anterior ao voo. Se o voo partisse de Ponta Grossa, o turista poderia usufruir de uma noite adicional em nossa cidade, utilizando o aeroporto local e evitando os transtornos da viagem por estrada", diz.

Com a correlação dos setores em desenvolvimento na cidade, o Turismo de Negócios e Eventos também é um dos pontos a serem beneficiados pelo investimento no aeroporto. “Temos aqui um grande número de empresas, além das universidades, que recebem visitantes com bastante frequência e poderão ser beneficiados com mais voos. Também seria possível desenvolver a criação de pacotes turísticos e promoções com companhias aéreas e operadoras especializadas em roteiros aéreos. Atualmente, estamos excluídos dessas oportunidades, o que se reflete na menor utilização de diárias hoteleiras na cidade", conta.

Para Karen Kobilarz, gerente executiva da Adetur Campos Gerais, para que o turismo do município possa atingir todo o seu potencial, é preciso investir em conectividade. “É fundamental ampliar as opções de voos e um número maior de companhias aéreas, oferecendo rotas diversificadas e atraentes. A mobilidade aérea deve ser compreendida como um vetor estratégico para o crescimento sustentável do turismo local”, opina a gestora.
Apesar dos apontamentos sobre os desafios que o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) poderá indicar com relação à possível ampliação do aeroporto de Ponta Grossa, os investimentos que virão a partir dele devem potencializar o desenvolvimento do município em diversos setores, sendo possível colher os frutos deste projeto a longo prazo.