Lideranças se unem para viabilizar construção de Porto Seco em PG
Estudo de Viabilidade foi apresentado no dia 12 de setembro com objetivo de justificar a instalação da estrutura na cidade
Publicado: 20/09/2025, 06:55

Ponta Grossa deu o primeiro passo para a instalação de uma estrutura que impactará diretamente os setores de logística, importação, exportação e industrial do Paraná. Em 12 de setembro, foi apresentado o ‘Estudo de Viabilidade’ para a instalação de um Porto Seco no município, de responsabilidade de elaboração do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O projeto, financiado pela Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg) e pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG), foi anunciado em uma reunião onde estiveram presentes a prefeita Elizabeth Schmidt (União); a secretária Municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional (SMICQP), Faynara Merege; o delegado da Receita Federal de Ponta Grossa, Remy Deiab Junior; e representantes da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e da Acipg.
Localizada nos Campos Gerais, uma região geográfica e cultural do Paraná, Ponta Grossa é a 4ª cidade mais populosa do Estado, lar de 375.632 habitantes, conforme dados de 2025 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos anos, o município experimenta um aumento em índices de desenvolvimento, como novas indústrias, geração de empregos, saúde e comércio. O estudo busca, partindo de dados que envolvem diretamente estes setores citados, justificar a instalação de um Porto Seco na cidade, um sonho antigo, como destaca Priscilla Garbelini, presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Ponta Grossa (CDEPG) e uma das responsáveis pelo estudo.
“Houve tentativas anteriores. Em um dos processos, a Receita Federal chegou a aprovar o projeto, mas na fase de habilitação, nenhuma empresa demonstrou interesse em operar — resultando na deserção do edital para operação do Porto Seco. Em outra oportunidade, a decisão de indeferimento foi registrada de forma muito sucinta, sem detalhes técnicos”, pontua.
Apesar do histórico, Priscilla vê o atual cenário como favorável, principalmente pela realidade experienciada em Ponta Grossa, pela união entre instituições e o Poder Público e por todos os problemas apresentados nos antigos projetos terem sido resolvidos com o novo estudo.
“Podemos apontar como soluções a atualização completa dos estudos, incluindo pesquisas primárias com indústrias locais, com o apoio de entidades como Sebrae, Acipg e Conselho de Desenvolvimento, Fiep além do poder público municipal, garantindo robustez técnica. E talvez o ponto mais importante seja a nova realidade mercadológica que a região vive, dado a instalação de novas empresas, as quais movimentarão grande quantidade de produtos importados e exportados”, finaliza.

Para que o Porto Seco se torne um projeto real, dois passos determinantes foram tomados para sua concretização. O primeiro foi a elaboração do estudo, que destaca todas as vantagens estruturais pertencentes a Ponta Grossa. Na infraestrutura de transporte, a cidade está localizada em uma posição geográfica privilegiada, cortada ou próxima de importantes rodovias, como as BRs-376, 373, 153 e a PR-151, além de ser o município com o principal entroncamento rodoferroviário do sul do País e dispor de um aeroporto em reforma. Na Indústria, Ponta Grossa é uma das cidades paranaenses que mais importa e exporta, principalmente matérias-primas como madeira e soja, como destaca a secretária Faynara Merege.
“São vários os atrativos. Uma localização estratégica, a infraestrutura logística consolidada, parque industrial diversificado e em franca expansão, a disponibilidade de mão de obra qualificada, sustentada pela presença de universidades públicas e privadas, e também a demanda empresarial por serviços aduaneiros expressiva. Somados, estes elementos tornam a cidade um local altamente favorável para a instalação de um Porto Seco, reunindo condições técnicas, econômicas e estratégicas que justificam plenamente o empreendimento”, explica Faynara.

Outro ponto importante é a autorização por parte da Receita Federal. No Brasil, a instituição é quem possui a competência para fiscalizar às operações de comércio exterior que envolvem o território nacional. Em Ponta Grossa, a Delegacia da Receita Federal do Brasil (RFB) é uma instituição cuja jurisdição cobre 60 municípios, sendo 58 no Paraná e dois em Santa Catarina. Embora não seja ela quem detém o poder de deferir a construção do Porto Seco, sua validação é um importante passo da indicação que o projeto pode, sim, ocorrer em Ponta Grossa. Neste caso, como destaca o delegado Remy Deiab Junior, o que foi observado até o momento é extremamente favorável.
“Avalio que o cenário se apresenta tecnicamente mais favorável para a eventual aprovação do pleito. Enquanto cidadão ponta-grossense, quero que dê certo. Enquanto delegado da RFB em Ponta Grossa, estou envidando todos os esforços institucionais, respeitando-se os requisitos legais, para a medida ser exitosa, pois certamente atenderá o interesse público e atuará como um poderoso indutor do crescimento econômico da nossa região, completa.

PRÓXIMOS PASSOS - Com a apresentação do projeto e sua aprovação por parte dos líderes municipais, o próximo passo tomado foi a apresentação de um pedido de instalação do Porto Seco na cidade juntamente com o estudo de viabilidade para a Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil na 9ª Região Fiscal (PR e SC). A reunião ocorreu na última terça-feira (16), e envolveu lideranças políticas, empresários e as principais instituições envolvidas no desenvolvimento do estudo de viabilidade: Acipg, CDEPG, Fiep e Sebrae.
Após está etapa, e caso o pleito seja deferido, ocorre a instauração do procedimento licitatório. Caso haja um vencedor nesta etapa, o responsável deverá cumprir as condições legais e editais, além de demonstrar condições econômicas e estruturais necessárias para operar o Porto Seco, como destaca a DRF de Ponta Grossa.
“Caso alguém vença o procedimento licitatório, cumprindo as condições legais e editalícias e demonstrado possuir condições econômicas e estrutura necessárias para operar o Porto Seco, de modo que também se tenha segurança jurídica, inicia-se uma terceira etapa, também complexa e com suas peculiaridades, qual seja, os procedimentos para a efetiva instalação e operação do Porto Seco em Ponta Grossa, que demandará atuação do município, da União, de vários órgãos governamentais e também da iniciativa privada”.
O QUE É UM PORTO SECO? - Um Porto Seco é um terminal alfandegário que atua como ponto de armazenamento de produtos para importação e exportação. Embora sejam terminais privados, seu uso é público e o principal objetivo de sua construção é a interiorização das operações que normalmente ocorrem nos litorais, diminuindo custos logísticos e agilizando trâmites. O desenvolvimento de um Porto Seco em uma região fora do litoral ocorre também com o foco em desafogar as regiões marítimas, evitando assim o congestionamento de cargas e veículos de transporte. Seu posicionamento em locais estratégicos, como São José dos Pinhais e Cascavel, cidades que operam com um Porto Seco no Paraná, traz agilidade nos trâmites, melhora o desempenho logístico das operações, além de solucionar problemas de armazenagem e abarcar a demanda crescente por armazenamento de produtos.
Proposta fortalece cadeira produtiva, gera riquezas e empregos
A instalação de um Porto Seco no Parque Industrial da cidade de Ponta Grossa é um sonho antigo. Um objetivo ao qual o município se prepara para realizar. Nos últimos anos, Ponta Grossa vive período de grandes investimentos, obras e crescimento econômico acelerado. Um dos marcadores deste desenvolvimento, o Valor Adicionado Fiscal (VAF), parâmetro utilizado para mostrar a geração de riquezas de um local em um determinado período, mostra que Ponta Grossa, nos últimos 10 anos (2014 - 2024), apresentou um crescimento na geração de riquezas de 233,68%. Em 2014, por exemplo, o VAF do município foi de R$ 6,53 bilhões. Em 2024, R$ 21,78 bilhões. As áreas de Indústria (297%), Produção Primária (185,89%) e Comércio e Serviços (143,50%), foram os setores que mais apresentaram crescimento.
Esta evolução no VAF não é espantosa. A prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt (União), destaca que a cidade vem se preparando de forma planejada e contínua para receber um projeto desta dimensão, seja através de investimentos na indústria, que somam R$ 15 bilhões, seja através da marca de R$ 1 bilhão em obras públicas, que transformaram a cidade no maior canteiro de obras do interior do estado.
“Nos últimos anos, estruturamos nosso parque industrial, avançamos em mobilidade e infraestrutura logística e consolidamos nossa posição como o principal entroncamento rodoferroviário do Sul do Brasil. Garantimos segurança energética, fortalecemos nossa malha ferroviária e criamos políticas públicas de incentivo que aumentam a atratividade para novos investimentos”, destaca a líder do Executivo.
Elizabeth encerra sua fala destacando que o projeto do Porto Seco é um passo fundamental para que Ponta Grossa tenha a sua matriz econômica ainda mais desenvolvida. Uma prioridade do presente.
“Não é somente uma demanda logística, mas um passo fundamental para transformar ainda mais a matriz econômica da cidade, gerar empregos, atrair novos investimentos e ampliar nossa competitividade no cenário nacional e internacional. O Porto Seco não é um projeto do futuro distante, ele é uma prioridade do presente, e vamos lutar com firmeza para sair do papel e se torne realidade quanto antes”.

A instalação de um futuro Porto Seco renderá inúmeros benefícios para Ponta Grossa. Rafael Issa Rickli, coordenador regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), ressalta o desafogo logístico e o impulsionamento nas indústrias como um dos principais avanços.
“O Porto Seco será um desafogo logístico estratégico para Paranaguá, ao transferir parte do processo de desembaraço aduaneiro e consolidação de cargas para o interior. Isso reduz filas e gargalos na faixa portuária, agiliza o transporte e diminui custos de espera em pátio. Para a indústria, os benefícios são evidentes: menor custo logístico e maior agilidade no escoamento da produção”, explica Rafael Rickli.
Além disso, a implementação de uma estrutura como essa ajuda a resolver demandas históricas apontadas pela Fiep, como questões envolvendo burocracia, custos altos e velocidade no escoamento.
“Entre as principais demandas que o Porto Seco ajudará a resolver estão: excesso de burocracia centralizada em Paranaguá; altos custos logísticos, que reduzem a competitividade da indústria paranaense frente a outros estados; necessidade de descentralizar os serviços aduaneiros e aproximá-los das regiões produtivas; e a rapidez no escoamento em períodos de safra, quando há concentração de cargas”, encerra.

Estes avanços destacados pela Fiep são reforçados pela Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), uma das patrocinadoras do estudo de viabilidade. Como destaca a instituição, a construção de um Porto Seco representa também a modernização nas operações e influencia na atração de novos recursos para a indústria da região.
“Acreditamos que a instalação de um Porto Seco em Ponta Grossa seria um passo essencial para modernizar e agilizar as operações de exportação e importação. Considerando que Ponta Grossa é um importante polo industrial e logístico do Paraná, acreditamos também que sua instalação tem o potencial de aumentar ainda mais a atratividade para novos investimentos e consolidar nossa posição como um centro de distribuição estratégico na região Sul do país”, destaca a Acipg.
ALÉM DE PONTA GROSSA - Um dos principais benefícios com o desenvolvimento de um Porto Seco na região de Ponta Grossa não favorece somente a cidade, mas também a Portos do Paraná, uma empresa pública estadual que exerce a administração dos portos de Paranaguá e Antonina, no litoral paranaense. Como explica Marcus Vinicius Freitas, diretor jurídico da empresa, um Porto Seco em Ponta Grossa representa uma expansão na capacidade de armazenamento e manejo de cargas, benéfica também para a empresa.
“Nos últimos seis anos, tivemos um aumento de 25% na movimentação de cargas na Portos do Paraná. Saltamos de 53 milhões de toneladas para fechar o ano passado em 66 milhões e 700 mil toneladas. O Porto Seco auxiliaria muito a Portos do Paraná em termos de capacidade estática de armazenamento de carga. É importante termos esse incremento na nossa capacidade retroárea de cargas”, destaca Marcus.
Este benefício se impulsona ainda mais, uma vez que Ponta Grossa é a cidade do Estado que mais envia caminhões para a Portos do Paraná no País na categoria ‘seguimento de granel’ . Produtos, como soja e cevada, matérias-primas de destaque no agronegócio brasileiro, também são as principais mercadorias onde a logística relacional entre Ponta Grossa e a empresa mais se convergem.
“Ponta Grossa é a Cidade que mais envia caminhões para a Portos do Paraná. Cerca de 7% dos caminhões que recebemos no ano passado tiveram origem do município. Neste ano, 1/3 do farelo de soja exportado pela Porto do Paraná tem origem em Ponta Grossa, e a cevada é outro produto que a cidade tem uma grande representatividade. Mais de 40% do que importamos de cevada foi para Ponta Grossa”, finaliza Marcus.

Diante deste cenário, a instalação de um Porto Seco poderá não somente mudar a realidade ponta-grossense, mas de todo o estado do Paraná.