A 'arritmia digital' da conectividade é um risco à saúde e segurança em Ponta Grossa | aRede
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A 'arritmia digital' da conectividade é um risco à saúde e segurança em Ponta Grossa

Conselheiro, médico avalia que conectividade precária afeta serviços essenciais e a saúde da população, a exemplo da telemedicina

Mário Rodrigues Montemor Netto é conselheiro na área da Saúde
Mário Rodrigues Montemor Netto é conselheiro na área da Saúde -

Lilian Magalhães

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O conselheiro da área da Saúde do Grupo aRede, Mário Rodrigues Montemor Netto, avalia que a precariedade do sinal de telefonia e internet em Ponta Grossa vai além de uma falha técnica e representa um problema de saúde pública, que ele define como uma “arritmia digital”.

O debate é referente a uma reportagem especial do Portal aRede

Para ele, a conectividade deve ser tratada como um fator associado à saúde, exigindo ações urgentes do poder público e das operadoras para reduzir desigualdades, proteger a saúde mental da população e garantir acesso seguro a serviços como a telemedicina.

Confira abaixo a opinião na íntegra de Mário, que é médico, pesquisador, professor e presidente da Associação Médica de Ponta Grossa (AMPG):

"Ao analisarmos a reportagem sobre a precariedade do sinal de telefonia e internet em Ponta Grossa, é fácil encararmos o problema apenas como uma inconveniência técnica — o vídeo que trava ou a mensagem que não chega. No entanto, sob a ótica da saúde pública, meu diagnóstico é mais grave. Ponta Grossa sofre de uma "Arritmia Digital", uma patologia caracterizada por um paradoxo perigoso: sofremos simultaneamente de "hipóxia" (falta de oxigênio/sinal para serviços vitais) e de "taquicardia" (o estresse e a dependência tóxica da hiperconectividade).

Este cenário não é apenas um problema de telecomunicações; é um Determinante Social de Saúde que afeta a segurança física e a sanidade mental da nossa população.

VÍDEO
Assista à opinião de Mário Rodrigues Montemor Netto, conselheiro de Saúde do Grupo aRede. | Autor: aRede.
  

1. A Hipóxia Digital: A "Divisão Digital" que Bloqueia a Saúde

A primeira face da doença é a desconexão forçada. Estudos globais recentes, como "A Smartphone Is Not Enough", mostram que a dependência exclusiva de dados móveis (3G/4G instável) cria uma "subclasse digital" com acesso precário à saúde.

Discutimos no MasterPlan da Saúde a modernização via telemedicina. Porém, os dados são claros: pacientes que dependem apenas de celular têm taxas muito maiores de abandono de tratamento (no-show) em consultas virtuais.

Se o paciente do Jardim Carvalho ou de Itaiacoca não tem sinal estável, a consulta cai. Isso gera o "absenteísmo digital". Sem uma rede robusta, a saúde digital vira privilégio de poucos, aprofundando a desigualdade no SUS. Além disso, na zona rural, a falta de sinal decreta a incomunicabilidade. Em caso de infarto ou acidente, a impossibilidade de chamar o SAMU na "hora de ouro" transforma uma falha de antena em um risco de morte.

Dados fornecidos pelo conselheiro de Saúde do Grupo aRede.
Dados fornecidos pelo conselheiro de Saúde do Grupo aRede. |  Foto: Mário Rodrigues Montemor Netto.
  

2. A Taquicardia: O Paradoxo da Juventude e a Ansiedade

A segunda face é a relação da nossa juventude com essa tecnologia. Pesquisas sobre "Unplugging Youth" revelam que o uso excessivo de smartphones (>5h/dia) está ligado à depressão, distúrbios do sono e ansiedade severa.

Aqui vivemos o Paradoxo de Ponta Grossa: o sinal é ruim o suficiente para impedir o trabalho e o estudo (gerando estresse nos motoristas de app e estudantes), mas é suficiente para manter o vício em redes sociais. Isso cria um ciclo de "Ansiedade da Desconexão": o jovem fica ansioso não só pelo vício (Fear of Missing Out), mas pela incerteza se a rede vai funcionar. O "ícone de carregando" girando na tela é um gatilho moderno de liberação de cortisol (hormônio do estresse).

VÍDEO
Dados fornecidos pelo conselheiro de Saúde do Grupo aRede. | Autor: Mário Rodrigues Montemor Netto.
  

3. O Ambiente Tóxico: Fios que Estressam

Para piorar, a infraestrutura que deveria nos conectar, muitas vezes nos agride. O emaranhado de fios aéreos nos postes (o "caos aéreo" que já diagnosticamos) é uma forma de poluição visual que aumenta a carga cognitiva do cérebro, contribuindo para a fadiga mental coletiva.

Dados fornecidos pelo conselheiro de Saúde do Grupo aRede.
Dados fornecidos pelo conselheiro de Saúde do Grupo aRede. |  Foto: Mário Rodrigues Montemor Netto.
  

Conclusão: O Diagnóstico e o Prognóstico

1) Conectividade é Saneamento do Século XXI

É doloroso ver que, enquanto o mundo testa a internet 10G, nós lutamos pelo básico do 4G em bairros populosos como o Jardim Carvalho. A exigência por melhorias na cobertura não é um pedido de conforto, é uma demanda de sobrevivência e dignidade humana. As autoridades e operadoras precisam entender: cada "ponto cego" no mapa de Ponta Grossa é um local onde a saúde da população está desprotegida e onde o futuro chega com atraso. Resolver a "arritmia digital" é vital para manter o coração da cidade batendo.  

2) O Prognóstico

A "Arritmia Digital" atua como um determinante social de saúde negativo. Ela reforça o que a literatura chama de "digital redlining" (exclusão digital de áreas menos lucrativas), criando uma subclasse de cidadãos desconectados que, consequentemente, são menos saudáveis e menos seguros. O tratamento exige encarar a conectividade não como luxo, mas como saneamento básico. Sem estabilizar o ritmo dessa rede, a telemedicina falhará e a cidade continuará sofrendo "infartos" logísticos e sociais.

3) Higiene Digital

Precisamos promover espaços de "Desintoxicação Digital" (Digital Detox). Mas isso só é possível se a cidade oferecer alternativas. Nossos jovens ficam no celular porque faltam quadras, parques e lazer seguro nos bairros. O investimento no esporte e na cultura é o melhor remédio para tirar o jovem da tela".

CONSELHO DA COMUNIDADE

Composto por lideranças representativas da sociedade, não ocupantes de cargo eletivo, totalizando 14 membros, a iniciativa tem o objetivo de debater, discutir e opinar sobre pautas e temas de relevância local e regional, que impactam na vida dos cidadãos, levantados semanalmente pelo Portal aRede e pelo Jornal da Manhã, com a divulgação em formato de vídeo e/ou artigo.

Conheça mais detalhes dos membros do 'Conselho da Comunidade' acessando outras notícias sobre o projeto.

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