Governo Trump faz nova ameaça e diz 'observar atentamente' caso de Bolsonaro
Por meio de conta governamental nas redes sociais, EUA afirmam que acompanham situação no Brasil "de perto"
Publicado: 15/07/2025, 09:18

O governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, fez mais uma ameaça ao Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil e ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em publicação feita na noite desta segunda-feira (14) pelo X, o subsecretário de Estado para a Diplomacia Pública e Assuntos Públicos, Darren Beattie, reinterou as declarações de Trump.
Na postagem, Beattie afirma que Trump "impôs consequências há muito esperadas contra o Supremo Tribunal de (Alexandre de) Moraes e ao governo Lula por seus ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio com os EUA".
Além disso, a postagem ainda explicita que os EUA acompanha de perto os desdobramentos da apresentação de alegações finais da ação na Procuradoria-Geral da República (PGR), que deve apresentar ainda nesta semana as alegações finais da ação que tem Bolsonaro como réu, por tentativa de golpe de estado em 2022.
A mensagem vem acompanhada de uma imagem institucional com o brasão do governo americano, em tom solene, o que amplificou a repercussão e gerou críticas no meio diplomático brasileiro, que classificou o gesto como uma interferência indevida nos assuntos internos do Brasil.
Confira a tradução completa da publicação:
O presidente Trump enviou uma carta impondo consequências há muito esperadas à Suprema Corte de Moraes e ao governo Lula por seus ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio americano. Tais ataques são uma vergonha e estão muito abaixo da dignidade das tradições democráticas do Brasil. As declarações do presidente Trump são claras. Estaremos observando atentamente.
President Trump sent a letter imposing long-overdue consequences on de Moraes' supreme court and Lula's government for their attacks on Jair Bolsonaro, freedom of expression, and American trade.
— Senior Official for Public Diplomacy (@UnderSecPD) July 14, 2025
Such attacks are a disgrace and fall well below the dignity of Brazil's democratic… pic.twitter.com/jmwJbGDrpR
Crise jurídica interna
A publicação coincide com dois momentos sensíveis para o governo brasileiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve apresentar nas próximas horas as alegações finais no processo que acusa Jair Bolsonaro (PL) de tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ao mesmo tempo, Lula assinou na noite desta segunda-feira o decreto que regulamenta a chamada Lei de Reciprocidade, aprovada pelo Congresso em abril, autorizando o Brasil a impor medidas comerciais contra países que adotem barreiras unilaterais — como as tarifas de 50% impostas por Trump na semana passada.
As tarifas anunciadas pelo republicano afetam diretamente produtos estratégicos da pauta de exportações brasileira, como aço, carne bovina e suco de laranja. Em carta, o presidente americano alegou que o Brasil estaria desrespeitando princípios de “livre comércio” e adotando práticas ambientais e regulatórias “incompatíveis” com os padrões dos EUA.
A nova manifestação de Beattie aprofunda a percepção de que Trump tenta instrumentalizar a política externa para reforçar seu alinhamento com Jair Bolsonaro, que enfrenta crescente pressão judicial. Ao classificar o julgamento do ex-presidente brasileiro como um “ataque à liberdade de expressão”, o governo americano parece ecoar o discurso bolsonarista, que aponta perseguição política.
A escalada da crise preocupa setores estratégicos da economia brasileira. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu nota classificando as tarifas como “injustificáveis” e alertando para o risco de perdas bilionárias em exportações. No agronegócio, representantes do setor já se mobilizam para pressionar o governo a buscar uma solução negociada antes que os prejuízos se consolidem.
“Estamos falando de cadeias produtivas inteiras que dependem do mercado americano. O impacto pode ser devastador”, afirmou um dirigente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras.
O governo Lula aposta na Lei de Reciprocidade como instrumento de resposta firme, mas ainda não está claro se haverá espaço para reaproximação diplomática nos próximos meses. O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, convocou reuniões emergenciais com representantes do setor produtivo para esta semana, com o objetivo de mitigar os impactos da crise e preparar eventuais contramedidas.
Informações: Correio Braziliense